De vez em quando, no meio de um café, durante um almoço em família, depois de alguma balada no meio da semana, ainda tem quem me pergunte de você."E aquele seu namorado lá, acabou?" Parece bobagem que mesmo depois de tanto tempo eu não tenha uma resposta na ponta da língua. Eu deveria saber, não é? Mas fico quietinha com aquele típico sorriso amarelo sem graça e sem vontade de sair, como se só isso fosse o bastante pra dizer que eu não sei, ou até sei, só não quero falar porque é muito mais complicado do que parece.E mais doído, também.
Além do mais, o que eu poderia dizer? Que a gente nunca chegou a começar nada por isso você não se sentiu obrigado a ficar quando a vida apertou? Que você teve medo de agarrar na minha mão bem quando eu precisei que você fosse forte e isso fez tudo o que a gente era - ou não era - desmoronar? Que eu chorei dias e noites tentando entender o que tinha acontecido pro teu corpo não estar mais ao lado do meu? Não dava, nem da, para explicar pra sei lá quem que, na verdade, aquele meu namorado lá não chegou nem mesmo a ser o meu namorado e que a gente, também, nunca precisou acabar, porquenos faltou ousadia de arriscar começar o que quer que fosse.
Cê sabe, não sou boa em falar sobre essas coisas: amor, relacionamentos, despedida. Eu só sei escrever. Só. Meu coração não é tema pautado na minha vida, não vira assunto em conversas de bar, nem em noites nubladas. Eu não gosto - nem faço questão - de deixar sair pela boca o que o peito grita. E quando eu te vi ir embora o máximo que eu consegui cuspir foi um "deixa o meu fone de ouvidos com algum conhecido seu que eu pego depois", não era bem o que você esperava, mas fazer o que? Aí cê suspirou profundamente, meio decepcionado, como se esperasse um pouco mais. Tudo bem, cara, porque eu também sempre esperei um pouco mais da gente. Um pouco mais que aquele meio termo sem termo certo, sabe? Um pouco mais que só café com leite cheio de açúcar. Eu sempre quis mais do seu menos. Só demorei pra perceber o quanto aquele comodismo todo havia acabado com o que podíamos ser, quem sabe, um dia. E quando eu quis gritar: traz um café amargo - ou uma vodka - pra essa história descer queimando, você pediu pra ir embora. E eu deixei. O que mais eu podia fazer? Espernear? Brigar? Implorar? Não dava. Eu sempre acreditei em reciprocidade, se quer ir: vá. Ninguém é obrigado a ficar. E você foi, sem nem me contar o que a gente era. Se é que a gente era.
Eu lembro que quando perguntavam o que nós tínhamos, eu não sabia direito o que responder. A verdade é que eu nunca soube dizer o que nós dois tínhamos. Não chegamos a ser só bons amigos e nem arriscávamos ser um casal, vivíamos em cima do muro, naquele meio termo chato que vai um pouco além de meros ficantes, mas não ousa tocar em seriedade. Éramos aquilo que quase deu certo, mas acabou errado. Tinha uma bagunça toda no que envolvia sermos seja lá o que fossemos. Se não éramos nada ou se éramos muito: quem sabe? Sei lá, talvez, só talvez, a gente também fosse amor. Mais amor que qualquer outra coisa. E isso podia ter sido tudo, mas você resolveu abandonar o barco antes de dar o tal do próximo passo e jogou toda a culpa no meu ombro. Ficou me olhando como se eu tivesse estragado tudo e eu só queria saber: tudo o que? Insinuou com aqueles lábios mudos que esbravejavam que eu precisava fazer alguma coisa. Ok. Suspirei fundo, engoli o choro, fechei a alma e te pedi pra não esquecer de deixar de me entregar os fones. Se é pra ir, pelo menos me garante que não volta. Se a gente não chegou a ser alguma coisa, não tinha porquê ficar.
Gabriela Freitas
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