Ele foi minha adolescência, ele aceitava meu jeito destrambelhado, nunca reclamou das minhas espinhas, quase espinhas. Ele nunca pediu pra que eu mudasse, nem ligava pras minhas fases de humor, e sempre gostou de mim, dramática, e com minhas crises sentimentais, ele ria das minhas gírias, mas gostava do jeito como eu arrumava meu cabelo, e sempre amou meu cabelo loiro, cacheado nas pontas. Eu chamava ele de “meu namorado” ele me chamava pelo nome, quando saiamos, ele deixava bigodinho com o sorvete só pra me ver limpar, estudávamos na mesma escola, e nosso correio eram os bilhetes que trocávamos, ele não deixava eu me concentrar. Ele sabia tocar violão, e dizia que eu cantava bem, mas eu não cantava, não como ele. Ele me achava divertida. Mas eu sentia que ele mentia para mim. Ele dizia que gostava muito de mim, ele dizia que seu sonho era se formar em direito. E o meu sempre foi ser escritora, ele sonhava em dar uma chance à aqueles que merecem, eu queria escrever sobre ele em uma daquelas colunas de jornais que falam sobre amor. Ele dizia que tinha medo de que o futuro nos afastasse, por fim afastou, e ele não fez nada para mudar.
Lembra daquela tarde que você veio na minha casa pra gente conversar? Você nunca chegava sem avisar, fomos naquela praça perto de casa, onde tudo começou. Você disse que queria conversar. você segurou minha mão e disse que não podia mais. Não podia mais o que? Eu nunca quis entender. Você disse que não sabia como me dizer. Sentamos no mesmo banco em que tínhamos sentado tantas vezes. Mas dessa vez parecia diferente, porque era a ultima vez. Você me fez chorar naquele dia, você disse que tinha que ir, e que aquele não era um até logo, era um Adeus. Naquele dia eu chorei, me apaixonei e te odiei. Até hoje não sei se eu te amei. Você foi embora. Eu escrevia cartas todos os dias durante um ano. Você tinha noção do mal que me fazia? Mesmo longe não me deixava seguir em frente. Eu lembro que eu dizia que ia escrever um livro sobre você, você ria e dizia que não merecia. É não merecia.
No dia do meu aniversario você pegou na minha mão, e me levou pra andar no carro do seu pai, pra ver o pôr do sol, aliás aquele foi o pôr do sol mais lindo que eu já vi, ouvimos aquela música do John Mayer no seu carro, você disse que ela era pra mim, você foi o primeiro a me deixar dirigir, você me levou num restaurante e pagou a conta. Eu fiquei imaginando quantas vezes aquele dia se repetiria. É não se repetiu. Você foi o primeiro, foi o primeiro a me dedicar uma música, o primeiro a gostar de mim, o primeiro a pagar a conta, o primeiro que foi embora. Ainda lembro quando eu tinha 16 anos, você tinha 17. Você jogava futebol, eu gostava de ficar te vendo. Ainda lembro da primeira vez que o vi, tão lindo, tão meu. Éramos duas crianças sem saber de nada do mundo, você estava jogando com seus amigos, e eu sentada de longe de olhando, você sorriu e até hoje eu não sei porque, um sorriso de canto que eu fiz questão de nunca mais esquecer. Dois anos se passaram tão rápido, eu ainda sentava naquele banco da pracinha, aquela árvore velha, com folhas caídas, e flores secas, sem vida, em mais um outono, sem vida, sem cor, sem você. Sentei lá, buscando respostas, respostas que talvez eu tivesse medo de saber. Eu sabia que tu não ia voltar, mas eu sentei lá querendo te encontrar de novo pelos caminhos da vida. Quem diria que após dois anos nos encontraríamos no mesmo lugar e nos apaixonaríamos de novo? Eu diria. Eu digo. Sonhei incansavelmente com isso. E então não éramos mais dois adolescentes, que eram estranhos, éramos eu e você. Éramos nós. Uma dupla incrível, imbatível. Como eu disse, “éramos” “Ei, tá ouvindo, Saudades.” Você não sabia? Era tarde demais pra dizer que estava com saudades, você poderia ter dito há 2 anos atrás. E então eu sabia, sabia de tudo. Mas infelizmente aquele não era um final feliz, de repente fiquei feliz por te ver de novo, você não mudou nada, ainda usava o mesmo corte de cabelo. Você disse que eu estava linda com o cabelo mais longo, e me chamou pra sair. – Me desculpe, quem é você mesmo?
“Estou indo embora, se cuida, até nunca mais.” você disse nunca mais, e pra mim nunca mais é muito tempo.
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