Eu lamento por nós

Uma vez eu li, que quando precisamos pedir pra alguém ficar, é porque tá na hora de deixar esse alguém ir.
Nunca fui boa com despedidas, meias palavras, e olhe lá. Despedidas alimentam a esperança de um reencontro. Mas você disse para mim que precisava conversar. Conversamos. Ouvi você dizer que não deveríamos mais continuar. Te pedi explicações. Você falou que não queria me machucar mais, e tinha medo de fazer mal a mim, disse que gostava de mim, mas não dá forma que eu gostaria, e que não imaginaria um futuro pra gente. Você foi cruel, até demais, eu vi você gostar de mim e mudar de ideia, como quem muda de idéia sobre a cor da roupa que vai usar. Eu disse que iria me  afastar se você pedisse. Mas pedi pra que a gente não acabasse assim, pedi que você não deixasse eu escapulir pelas suas mãos, por que eu não voltaria. Desejei que a gente continuasse se fazendo bem juntos. Tentei achar um motivo pra continuar, mas você destruiu todas as possibilidades.

Você propôs amizade. E que nós mantivessemos uma distância confortável, eu disse tudo bem, como se realmente fosse possível a gente se tornar amigos, e só, ou nos afastar assim, de uma hora pra outra. Eu queria mesmo era fazer parte dos teus planos no fim de semana, e não ouvir você falar de outra pessoa. Eu queria te fazer bem, e mostrar eu que não precisávamos de um rótulo pra saber que era real. Eu queria ficar bem perto de você e nunca te ver tão distante de mim. Eu queria dormir com você no telefone, e ainda assim ter assunto no dia seguinte. Você disse que eu era incrível, linda e que eu merecia mais do que meio tempo com você, quando dava, eu nunca questionei, mas você tinha razão, eu merecia mesmo. O problema, é que eu não queria esse tempo com outro alguém. Me encheu de elogios. Tive a impressão de que tudo isso era pra que eu continuasse a te ver da mesma forma, e não tivesse raiva ou algo assim. Te agradeço por isso, mas não me senti melhor. Eu achava que te ter por perto era melhor do que não te ter de forma nenhuma. Você elogiou os meus defeitos e no dia do meu aniversário disse que me amava um pouquinho, o problema é que o amor se torna grande, não importa a circunstância. Me fez acreditar que poderia ser amor disfarçado de medo, eu eu acreditei. Mas não era. Nunca foi. Eu não insisti. Não posso te pedir pra ficar, sabendo que aqueles nossos últimos encontros eram despedidas disfarçadas de reencontro, só eu não entendia.
 
Acreditei que poderia continuar te vendo e ouvindo a tua voz antes de dormir, e perguntando sobre o seu dia, e ouvindo você falar sobre o seu relacionamento que andava pelas beiradas. Talvez você precisasse de um tempo, de espaço, ou da minha ausência. Naqueles dias em que eu decidi desistir de você, pensei que em algum momento você desistiria de desistir da gente, mas você não desistiu.

Eu quero te dizer que todo aquele esforço pra te ver não foi à toa, e que aquele sorriso ao te ver do outro lado da rua nunca foi ensaio. E que se eu chorei na sua frente, foi porque não aguentava mais. Quero te dizer também que te dar as minhas mãos não foi um gesto qualquer. Queria te dizer que sentir o coração aumentando de tamanho não foi exagero e que esquecer os outros caras pra estar com você teve uma razão. Quero te dizer que eu estava disposta a perdoar sua escolha de ir embora, e que eu entendo. E posso te dizer o quanto isso é foda pra mim. Não quero te culpar, mas quero te dizer que tu é idiota, burro. Abaixou a minha guarda, me tornou inofensiva, pra quê? Mais uma vez, desculpa se por descuido, deixei você se afogar em mim, que sou intensa demais pra você, desculpa por ter enxergado amor, onde não existia nada que além do meu otimismo cego, desculpa por ter encontrado abrigo no seu abraço que não me cabia.

Sei que um dia não passaremos de dois desconhecidos que se conhecem muito bem. E às vezes me bate um certo medo só de imaginar que logo não nos falaremos, seguiremos nossa vida, e não faremos parte da vida um do outro. 

Agora, eu só quero te pedir desculpas por tentar adiar nosso fim, que já estava fadado ao fracasso, e me doar sem pensar na sua disponibilidade. Aceitei a escolha que cê fez. Você escolheu fugir de mim, da mesma forma que assumi o papel de idiota e escolhi te procurar todas as vezes que a saudade machucasse. Eu quero te dizer que foi um erro o que fiz com você e comigo. Quero te falar que o amor não se pede, nem se implora, entende? Eu queria estar contigo agora, mas ao mesmo tempo eu não quero mais. Queria poder te abraça e apertado e dizer só pra que nós dois soubéssemos, que: Ahh eu te amei. Queria ainda ser aquela, primeira pessoa que te vem à mente, quando perguntarem quem te faz sorrir, mas eu simplesmente não tenho coragem de fazer isso, logo eu, A louca, A destemida. Queria poder ser pra você aquilo que eu sempre fui por tanto tempo, intensa, inteira, apaixonada, mas hoje eu só consigo ser pouco, metade, e medrosa, cautelosa graças a tudo que você fez, ou melhor, ao que não fez.

Eu queria te ver, tirar um dia inteiro pra ficar com você, te abraçar como se eu tivesse mil razões pra continuar por perto, mas só consigo ter motivos pra ir embora agora. Eu queria poder dizer que ainda há admiração, mas eu não tenho mais certeza disso. Não tenho certeza de nada, sabe? Eu queria aquela confiança que eu um dia eu tive nisso, mas só consigo ter receio por acreditar que a vontade de permanência não é recíproca. Eu queria dizer nesse instante o quanto você é importante pra mim,  é que ainda serei aquela que te põe pra cima quando você tá mal, mas hoje eu só consigo ter medo. Medo de você saber essas coisas, e se assustar com a minha habilidade de ver beleza nas coisas mórbidas.

Eu queria poder dizer com toda minha sinceridade que eu sempre vou te ver com os mesmos olhos, mas em meio a tanto caos que você me causou, não sei se estaria sendo sincera comigo mesma ao te dizer isso. Eu te quis tanto, que me assustava, mas eu não sei mais, sabe? Mas fui obrigada a escolher não me machucar primeiramente, mesmo que isso nos afaste para sempre. A verdade que eu não sei sentir pouco, ou eu transbordo amor, ou não sinto nada. A verdade é que quando eu te quero, sinto que o melhor é não querer, cê entende? Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Meu desejo era que a gente continuasse se fazendo bem, nem se perguntar sobre o futuro. Pra falar a verdade, quando você me propôs amizade, eu disse que não conseguiria ser só sua Amiga, porque não é possível te olhar, sem querer te tocar, e te abraçar, e não saber mais como te desatar de mim, e a cada dia que passa eu só consigo ter mais certeza que tudo o que aconteceu nada foi real, pelo menos da sua parte. Sabe quando você deseja ficar mas sente que não tem mais espaço pra você? Quando você queria muito estar com aquela pessoa agora, mas lá no fundo sabe que não vale mais a pena? É isso que eu sinto. Porque você mudou, você mentiu, você trapaceou. Nem sei porque ainda te escrevo, sei que você não se importa como diz, mas queria dizer que eu lamento muito, lamento pelo nosso infinito assunto que se tornou um monólogo, também lamento que nossos risos tenha se desvanecido, e lamento pela nossa história que se tornou só uma nota no seu rodapé, e lamento pelas coisas que eu não disse quando deveria ter dito, lamento pela desistência, e pelo comodismo, lamento que nossa amizade tenha caído em decadência, e também lamento por nós, por ter nos tornado dois estranhos.