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A um avô

Quando eu tinha 9 meses de idade, meu avô me pegou no colo e me levou para conhecer o metrô de São Paulo, de Norte a Sul, sem nenhuma preocupação com o tempo, o que deixou minha mãe enlouquecida. O ano era o de 1995, que procedia sua aposentadoria. Desde aquele dia 28 de Setembro, em que saí da maternidade, ele foi me buscar no seu fusca branco e errou o caminho só para ficar mais tempo comigo no carro, é que ele se tornou uma das minhas pessoas preferidas no mundo. Tinha orgulho de ser o que era, contava da sua cidade natal, de como conheceu o seu amor no verão de 45, e como era vida de policiais militares. contava do seu primeiro emprego, aos 15, das vidas que salvou quando era policial. As histórias eram intermináveis, várias vezes ele contava a mesma e eu fingia que não sabia, porque era delicioso ouvir pela vigésima vez. Ele era aquela pessoa que, se você parasse para perguntar alguma direção na rua, te oferecia carona e te levava ao lugar sem cobrar, sem pestanejar, com o bônus de uma extensa conversa bem-humorada sobre os mais diversos assuntos. Se eu dissesse "vô, tô precisando de uma rocha rara encontrada em Marte", no outro dia ele aparecia com a rocha, Marte e o Sistema Solar. "A gente faz, só falar o que você quer". Lembro-me de certa vez que queria uma bicicleta da barbie. E era muito difícil de encontrar. Ele sentou comigo, bem cedo, no degrau da loja, e esperamos abrir. Mas não era só esse tipo de bem que ele me fazia, o material. Lembro que quando eu fiz 6 anos, e meus pais se mudaram comigo para outra cidade, ele também adoeceu de saudades de mim. Filha única até os 8, ele muitas vezes era minha companhia no parque, era quem sentava comigo no chão e espalhava os brinquedos. Era Desenhista e tinha uma escrita impecável, tenho suas cartas para a minha avó guardadas em uma pasta. Ele adorava Adriana Calcanhotto, Cazuza, Beatles, e Rock anos 80 herdei. Raramente me pedia algo. Quando pedia, era algo muito simples, de fácil resolução, que ele vinha cheio de dedos perguntar se eu poderia fazer, como se estivesse me incomodando. Ele foi parte avô, parte pai, parte amigo e um ser humano inteiro de virtudes, repleto de carinho, amor e paz no coração. Passaram-se 9 anos desde que ele deixou um buraco imenso na minha vida e não há um só dia que um pensamento não me leve a ele.

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