A primeira vez que eu te vi, estavamos sozinhos no meio de uma multidão, e mesmo assim você me notou. E por mais assustador que isso pareça, você trouxe pra minha vida um pouquinho de esperaça, que veio junto à você.
Não tenho nada agradável pra falar sobre você, mas naquele dia você assoprou uma faísca em mim, e me reascendeu.
alguém me disse uma vez que eu trapaceio a dor, porque escrevo sobre ela e isso é um anestésico, mas eu não a trapaceio. Ela está acomodada no meu ombro, a vista, explícita, exposta, sussurrando entrelinha por entrelinha.
Me apeguei aos seus olhos a primeira vez que o vi, e lamento que eles me enganem, à sua conduta duvidosa me causa repulsa, mas eu não te quero longe, mas também não te quero longe, que a gente fique assim, lamento por você ser tão convincente com suas mentiras mas infelizmente minha certidão de nascimento diz que eu não nasci ontem. De uma forma torta, e burra você me trás paz - ou a representação borrada dela, me apeguei de forma fidedigna, como quem agarra o pai no susto com o palhaço na primeira ida ao circo. Toda a nossa burocracia sentimental e psicológica não vai nos dar abrigo, e muito menos, amor, mas ela nos manterá ilesos, portanto mantenha seu sorriso longe dos meus olhos, e a sua mão longe do pescoço, e a sua alma inunda longe da minha.
Naquela noite em que meu mundo se desintegrou e só restou cacos de outros amores, eu nunca te disse, mas vou te dizer: você me salvou, de certa forma, em certa parte, de uma maneira como se fosse o próprio Deus que tivesse nos colocado na vida um do outro, mas eu percebo que Seus não colocaria o próprio Diabo na vida de alguém, que se parece um anjo quando sorri. (não se sinta mal, eu te perdoo um pouco, mas a outra parte não possui mais salvação), mas, subitamente, ao pensar estar parcialmente salva, caí.
Sua mão ao meu redor, não foi o suficiente pra me impedir de pular, ninguém me empurrou, nem mesmo eu. cair outra vez e de novo e novamente é necessário, sei. Mas eu estou acostumada a cair, e recolher os meus pedacinhos, e colar novamente. O sofrimento literal e vivo da queda não foi pelo atrito do corpo com o fundo do poço e sim porque, meu deus, como eu queria ter segurado sua mão por mais um pouco. Não peça perdão, a culpa não é sua, não é nossa, não existe culpa, só existe eu e você, e ambos somos lados remotos de um psicopata. Mas a nós somos tão iguais, que não nos completamos. Eu sou a parte lúcida, você também, mas finge loucura, pra se abastecer.
Eu tinha te escolhido no meio dessa multidão sem sentido, era o seu rosto
que eu queria encontrar, nos rostos abstratos perdidos na fila do pão. Mas tudo que foi leve, você pesou, tudo que era inteiro você triturou, tudo o que era simples você complicou, eu aguento tudo
menos essa falta de noção quando o assunto é coração.
Portanto eu declaro fim de jogo,
ninguém ganhou, ninguém perdeu, não é o fim. Mas não espere jamais me encontrar, você irá.
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