Páginas

Despedida

Quando tento encaixar minhas mãos por dentro das tuas, nós sabemos bem que elas já não se pertencem mais. Quando suas mãos acariciam o meu pescoço, eu também não sinto mais nada. Quando nós nos encantamos por um sapato na vitrine, não significa que ele vai servir no nosso pé para sempre, a vida é assim, conhecer-apaixonar-enjoar- e sabíamos que o próximo passo seria encontrar outro alguém. Por muito tempo eu me enganei, pensando que o seu abraço fosse feito para me acolher, questionava a Deus por não ter te conhecido antes, mas não. É estranho olhar para você é não sentir nada, acho que de tanto dar de cara no chão, eu me acostumei a me recompor. Você era como areia movediça, queria correr para você, mas eu sabia que quanto mais eu me movia, mais eu me afundaria. Uma hora percebemos que não precisamos de ninguém para nos dizer umas coisas bonitinhas em um fim de tarde qualquer, e nos ligar para falar da saudade.

Eu até me desculparia o por pisar no acelerador, é esquecer de puxar o freio de mão, até me desculparia por achar demais, por te querer demais, e pela minha miopia me fazer enxergar coisas, onde não tinha nada.

O primeiro passo agora é parar de criar expectativas, o segundo seria voltar pra casa, e voltar a sair com os meus amigos, o terceiro seria não me incomodar com a sua presença do outro lado da calçada.  Percebemos que tá tudo errado, quando começamos a querer que fôssemos exatamente o que éramos início. Quando eu simplesmente sabia acomodar você dentro de mim, sem contato físico. Soube que era hora de levantar bandeira branca quando simplesmente comecei a medir as palavras, para não dizer algo fora do contexto e acabar te magoando, me magoando.

Então, acredito que é hora de deixar tudo ir. Nossa voz anda embargada. O assunto terminou. Não vejo mais graça nas pequenas coisas. O que sobrou foi um espaço em branco na minha agenda, e o arrependimento da precipitação das coisas, que nos transformou em um Monte de entulho que vai ocupar o fundo do seu porta luvas. Tudo está quebrado. Não consigo entender o que fizemos a nós mesmos. Deixa o vento levar.

Você sugeriu que não era para eu te amar, eu te implorei para que não abrisse mão de mim, porque eu o faria, e você foi irredutível, não mudou de idéia, continuou insistindo que éramos um acidente catastrófico que deu certo, mas era só isso. Mas não demos. Demorou um certo tempo, pra que eu enxergasse as coisas como realmente eram. A gente já nem se reconhece mais. Quando eu saí do seu carro naquela última vez, eu olhei pra você com desânimo, tentei de todas as formas possíveis enxergar a mesma pessoa de duas semanas atrás, mas me deparei com um estranho. Não se assuste se por acaso eu quiser manter à minha distância, se  eu achar conforto em outro abraço, se eu me amarrar de vez em outro cheiro. Não se espante se por descuido ou acaso, eu simplesmente desaparecer. Foram necessárias tapa na cara demais pra que eu finalmente conseguisse enxergar que metades não servem em mim, e o que você me deu não era se quer reflexo das suas metades.

Estou triste, hoje, mas não tristeza sentimental, é um profundo desânimo comigo mesma, como se tudo o que aconteceu fosse culpa minha e do meu otimismo filha-da-puta, não somos só nós dois. Somos nós três, e todo um passado, todas as outras pessoas exercendo influências e opiniões, todo um conjunto de loucuras e medos, e vontade de largar tudo, toda uma mistura de raciocínio e vontade de estar perto, e a necessidade de estar longe… Tudo abala, tudo afeta, tudo interfere. Eu sei que eu não sou imutavelmente culpada, mas estamos falando de uma pessoa, com sentimentos. Nós traímos sim. E se de repente nós dois erramos? E se o erro foi nós? E se o erro foi bom? E se os corpos que já não se abraçam foi tudo o que precisávamos viver naquele momento? Resolve alguma coisa fugir agora?  Porque eu preciso fugir, pra me sentir protegida, o seu abismo é profundo, mas é escasso, eu posso estar pedida mesmo que eu tenha chegado só na beiradinha. E eu sei que o fato de eu não conseguir engolir a culpa toda, não significa que você não vá tentar empilhá-la inteira em cima de mim, por quase ter me apaixonado, e vai me magoar de novo quando abrir a porta pra eu ir, e por teimosia eu não ir, porque vou achar que você quer que eu fique.

Essa é a última vez, o último texto, a última explicação, dessa vez é última mesmo, não que eu não tivesse jurado das outras vezes, mas agora é diferente. (…) Fico triste pelo fim e mais triste por não termos nos distanciado antes. Mais triste por abrir minha guarda e deixar que você entrasse, enquanto ainda restava um abraço, um respeito. Enquanto ainda restava um sorriso  e umas lembranças boas. É sempre melhor partir antes de começarmos a nos perguntar "E se eu ficar?". Olha pra gente agora: o que sobrou de nós dois? Nem as fotos, nem lembranças. Nem as músicas. Nem os textos. Nem a saudade, meu bem. Nem a saudade. É tão perturbador recordar momentos felizes e sentir-se profundamente fria. Você sempre achou que eu nunca fosse ter coragem de ir embora todas as vezes que me expulsou, e eu quase não fui. Mas descubro que não existe nada hoje, capaz de me fazer ficar, nem mesmo a suas sinceras desculpas.

Eu não me culpo ter te dito todas aquelas bobagens. Talvez eu só estivesse tentando deixar as coisas um pouco mais bonitas, um pouco menos catastróficas… Eu já não sei mais o que sinto por você. E simplesmente não quero mais ficar perto pra descobrir. Eu que já te quis de tantas maneiras, hoje só quero mesmo é que você fique aí. O primeiro texto que escrevi para você, falava-se de reticências, e continuidade… Mas o ponto final é a unica coisa que eu espero de você. E eu nos perdoo por terminar com tudo isso, por não aceitar mais desculpas, por não querer ir adiante. Porque sei que um dia eu iria te amar, mas você faz mal para a minha saúde mental e meu equilíbrio emocional. Eu me perdoo por ter gostado de você, e eu te perdoo por não me corresponder. Você sabe que é perdoável quase tudo nessa vida. Eu só não perdoo uma única coisa: Sua covardia. De todas as coisas que  fizemos, que confessamos. Você foi o primeiro a não se importar. Felicidade é feita para quem tem coragem de sofrer, e dar a cara a tapa. Mas eu te entendo. Eu confundo amor com aquela coisa que você sente em determinados momentos.

Sempre encontrando uma desculpa ou um pretexto para não me abraçar apertado e não soltar mais. Sempre usando atenuantes como “Não sei o que eu quero, estou confuso”  Amar requer coragem, só isso! Desistiu da gente, antes de se perguntar, "E se desse certo?". É preferível a coragem da verdade nua e crua, do que as tuas meias verdades eufemistas. Mas eu te perdoo por tudo isso, mas Agora eu preciso ir, a gente se esbarra por aí, ou não.

Nenhum comentário

Postar um comentário

Layout por Maryana Sales - Tecnologia Blogger