É moreno, eu não tive outra opção. Eu apaguei nossas conversas ontem, foi um ato de coragem,desses repentinos que a gente mal consegue explicar como foi que conseguimos ter. Não pensei pra fazer e se eu tivesse pensado, talvez, tivesse desistido. Acho que eu desistiria sim. Ainda não sei dizer se me arrependerei, agora, pelo menos, não e digo isso com a certeza de quem, por alguma razão, se sentiu aliviada depois de tomar essa decisão. Pode ser que daqui alguns meses eu olhe pra trás e note o quão impulsiva fui, apaguei longas conversas sem nem cogitar salvá-las em outro lugar, deletei de uma vez, porque eu sabia que era necessário, porque com ou sem arrependimento eu tenho certeza de que vou me agradecer por isso.
A verdade é que enquanto existissem todas as promessas e todas as músicas e todas as vezes em que você insinuou que daria certo eu continuaria esperando pelo dia em que retomaríamos o último assunto pra poder falar de nós. Eu esperaria você me chamar pra gente terminar de analisar aquele filme tosco que passou na tela quente e pra combinarmos o dia em que eu faria teu brigadeiro. Eu esperaria o convite pra sair ou um pedido de desculpas, eu esperaria enquanto existissem reticências e vírgulas e parágrafos sem finalização que me fizessem acreditar que ainda não demos o nosso ponto final, só que nós já acabamos, não é moreno!? Ou melhor, você acabou com a gente, eu só precisei apagar as suas mentiras.
Nos últimos dias eu estive relendo tudo mais de uma vez, aquele silêncio que denunciava a falta de novas mensagens doía. Chorei um pouco porque no meio de todas aquelas falsas palavras que você me enviava tinha o meu coração e ele era de verdade. Eu te amei com toda a minha alma moreno, te amei e achei que você me amasse também porque você atua bem, sabe? Tem um papo bom, é seguro no que diz e sabe o que falar, vai nos envolvendo sem que consigamos nos dar conta do que está acontecendo, e tava acontecendo uma merda grande que ficou fedendo só pra mim. O nosso fim tem cheiro de coisa que estragou e não foi jogado fora. Ele cheira à podridão em que você transformou a nossa história.
Apagar as nossas mensagens foi uma atitude muito mais metafórica do que você pode imaginar, eu precisava disso pra colocar a casa em ordem e voltar a respirar com calma. Cê sabe, pra mim tudo vai um pouco além do que nós vemos, aqueles diálogos não eram só os nossos diálogos, eles eram a gente. Eu apaguei nossas conversas pra poder apagar nós dois de mim. Eu apaguei os nossos rastros, os nossos planos e as nossas linhas. Apaguei os nossos para sempre, as nossas declarações e o futuro que eu achei que teríamos. Eu apaguei tudo aquilo que me remetia à algo que só aconteceu dentro de mim, na minha imaginação. Eu vivi essa história sozinha moreno, porque você sempre foi um personagem, bonitinho, legalzinho, mas de mentira.
Eu apaguei nossas conversas e você até pode achar que isso é loucura e que de nada adianta fazer isso se eu não mando dentro de mim e cê tem certa razão: não mando no meu coração, mas não tenho mais passado pra reler. Não recordo mais se você me desejou boa noite ou só parou de responder, não lembro se chegamos a marcar aquele cinema ou se ficou pra conversa que nós não tivemos, não sei se o último bom dia foi você quem deu e nem tenho como descobrir nada disso, porque, assim como nós dois, elas não existem mais. Eu não posso te apagar de mim, mesmo que eu apague tudo o que vivemos, mas esse foi o jeito mais fácil deu mostrar pra vida que ela já pode apagar a gente.
Gabriela freitas
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