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Ainda sobre o meu amor épico

"De onde você tirou que ele é o seu amor épico?" pra quem assiste The Vampire Diaries, e shippa Stelena, certamente ligaria a nós, não que você seja um vampiro (Que eu saiba.) 
Ele trabalha numa loja de instrumentos musicais, e sempre que eu saía da aula, encerravamos nossas tardes, assistindo o por do Sol de cima da sacada do prédio. Parece uma recordação bonita, mas é uma recordação doída.
Ele dizia que sonhava em viajar pelo mundo, eu também sonhava, mas ele planejava, eu esperava que a vida seguisse a mesma rotativa, eu mudaria pra SP, Seria escritora e viveria um romance desajustado, ele queria fugir de casa pelos problemas familiares, temia se revoltar, estava em fase de separação dos pais, eu queria estudar, ser uma dessas pessoas que aos 25 já está com a vida resolvida, ele pensava em filhos, eu pensava em carreira, ele dizia que eu era louca por ser inconsequente, e que isso fazíamos perfeitos um para o outro, e éramos.
Há dois anos atrás quem nos visse sentados no banco da pracinha dividindo o mesmo fone de ouvido, compararia a gente aos casais de velhinhos que se conheceram no verão de '45 que foram felizes para sempre, e desejariam ser tão felizes como nós. E diriam que nós sim, encontramos o amor. Quem nos visse andando desajeitados, estabanados, rindo alto numa mesa de bar, diria que nós éramos perfeitos um para o outro. Ele adorava o meu jeito destrambelhada, é achava graça quando eu contava uma história, e imitava os personagens, e eu adorava a forma como o tom da pele dele se contrastava com o meu com facilidade. Há quem diga que nós éramos tão parecidos quase como irmãos. Ele era a minha luz no fim do túnel, meu refúgio nos dias ruins, de quem eu gostava de compartilhar meus dias bons e ruins, porque ele sempre tinha a resposta pra tudo. É engraçado falar dele no passado, ontem uma mulher aleatória me perguntou se eu o conhecia, eu ri, como quem ri ao lembrar se algo muito bom e neguei com a cabeça: Não mais. Eu nunca imaginei que um dia nós mudaríamos de calçada quando nos víssemos, hoje aquela sacada do prédio é só uma sacada de um prédio, e não A sacada do prédio. Lembro-me que certa vez queríamos fugir, e nos esconder do mundo, e então ficamos ali conversando, nem vimos as outras passem, eu acordei no ombro dele, com o sol na minha cara. O plano era sermos felizes, e fomos, fomos sim, fomos muito. O plano era nós contra o mundo. Dentre a 7 bilhões de pessoas no mundo. A gente se escolheu. E foi numa noite de quarta-feira que dissemos sim um para o outro. O mundo era minúsculo demais para os nossos planos de fugir e se aventurar no país das maravilhas. Éramos invencíveis, quem era o mundo, perto de nós?
Num domingo chuvoso eu conheci a mãe dele e a irmã, e na volta pra casa ele disse que me amava. Mas eu esqueci um pequeno detalhe, eu não era a sua princesa, você não era o meu príncipe, éramos só duas pessoas que em meio há uma sala lotada na escola se escolheu. Hoje alguém me perguntou se tu foi o meu grande amor, imediatamente minha mente refletiu nós dois, dois anos atrás fugindo de casa e se escondendo do mundo naquele cais, e de como deixavamos nossos pais malucos, e de quando invadimos o parque aquático a noite, e você quase me matou de susto quando o segurança nos perseguiu, ele era o seu tio. Não era amor daqueles mais sinceros, era? Você era tão inconstante como eu, tão louco, e sonhava em se aventurar por aí, me ensinou amar a liberdade e morar nela, éramos dois pássaros famintos por liberdade, presos a uma linha que nos ligava, não era o nosso signo que nos atraiu, nosso destino não se cruzou na maternidade, eu ainda lembro de quando juntamos os nossos dedos mindinhos e falamos sobre Akai to, a lenda do fio invisível que liga duas pessoas. E hoje eu tô com uma saudade doída, e desesperançada, sei lá, ele me ensinou muitas coisas, me ensinou tocar violão, me ensinou a não ter medo de arriscar, e me ensinou a se jogar sem medo das consequências, me ensinou a gostar de Red Hot Chili Peppers, e foi o primeiro; o primeiro a abrir a porta do carro, o primeiro a me dedicar uma música, o primeiro a me escrever uma carta, o primeiro a me ensinar brincar de amar; e eu te amei, assim como uma criança ama seus pais, ah eu amei.
Ontem na aula a professora disse que a coisa mais difícil que ela fez foi se despedir do cachorro dela chamado Bullock, e ela perguntou qual a coisa mais difícil que nós já tivemos que fazer, e solicitou uma redação de 25 linhas, e eu só consegui lembrar da nossa despedida. Não teve grito, briga, xingamento, confissões de última hora, pedidos para ficar, Bandeira Branca. Só teve um pouco de choro, e tristeza e um abraço apertado entre duas pessoas que sabiam que tinham tentado de tudo, mas que não dava mais, você tinha que seguir seu caminho longe do estado, e não dava pra continuar. A gente se gostava muito, e nunca em tanto tempo ficamos mais do que dois dias sem nos ver, e foi difícil porque eu esperava que você desistisse de ir, mas eu sabia que não dava, era o seu futuro, eu te olhei como quem não aguentava mais mais segurar as lágrimas e quando você me deixou em casa, eu vi o seu carro ir, até virar em uma esquina, e então eu chorei, cada um pro seu lado. Eu tive que aceitar. É muito ruim quando um relacionamento acaba, seja pelo motivo que for, mas muito pior é ter que dar adeus pra alguém que você queria que ficasse pra sempre ao seu lado. 

A gente quase completou dois anos de namoro, quase. Faltou uns três meses. Mas hoje, dia de finados, completamos um ano de separação, um ano que eu não olho para o celular com uma esperança boba de que seja você, um ano que eu me despedi da única pessoa que eu tive a ousadia de amar, e que pior: me amou de volta. Um ano que eu não olho com ingenuidade pra alguém, e vejo o mundo inteiro pelos olhos dela, ano passado essa hora, exatamente a essa hora, eu lembro bem, eu estava me arrumando para viajamos pelo estado, e voltar na segunda feira. Eu estava no shopping comprando besteiras pra gente comer no meio do caminho, e umas coisas que garotas compram no shopping, mas que não se mencionam em textos como esse, nesse dia tinhamos passado o dia sem nós falar, e no dia anterior você havia pedido minha opinião sobre as roupas pra levar. Quando você iria me dizer que estava pensando em desistir da gente? Quando? Você nunca disse, você me enchia de esperança, "são 4 anos, eu venho nos feriados, e você pode ir me visitar". E eu esperaria, fielmente, com o coração na mão, o tempo que fosse, eu esperaria. Aí você me liga, disse que tinha um assunto sério pra me falar, e disse pra eu te esperar, que você ia me buscar, imediatamente comecei a criar paranóias, Acho que eu nunca esperei tanto nada em toda a minha vida, como te esperei naquele estacionamento. Estávamos apenas nós dois. Ele me olhava com um sorriso morno nos lábios, e um olhar tristeza. Eu sabia o que ele iria dizer, mas aguardei pacientemente e torci pra que não fosse isso. Nesse momento podíamos ler os pensamentos uns do outro. Fui dominada por um instinto de repelir tristeza, aquele olhar fixo não era pra me dizer que daria tudo certo, ele me olhou e então disse "Não dá mais". Eu quis chorar, pirraçar, implorar pra que ele não fosse, questionei a Deus, e briguei com ele por longos 8 meses por não ter escrito certo por linhas tortas desta vez, e então ele me abraçou apertado, e disse baixinho que me amava, foi a última vez que eu me senti protegida no abraço de alguém. No fundo eu sabia que aquele abraço era o último, mas me recusava a pensar nisso. Um abraço tão forte ele me deu, fazendo com que me sentisse uma pequena garota sendo protegida por um anjo. Era sempre assim, mesmo quando estava esgotada aquela situação, quando o via sorrindo, me renovava. E então ele me deixou em casa, e delicadamente ele me beijou, os lábios macios. Suas mãos na minha cintura fazia eu me sentir que eu era dele, assim pude sentir seu cheiro, o cheiro que eu tanto gostava. Era gostoso quando ele me beijava assim, no meio de sorrisos. Mas nesse dia não era um sorriso de felicidade, era de tristeza. Aí ele colocou uma mexa de cabelo atrás da minha orelha, e enxugou as minhas lágrimas, e não proferiu nenhuma palavra.

Hoje um ano depois, a falta dele não me atrapalha mais, eu sempre terei coisas boas pra falar dele, talvez um dia desses eu me jogue nesses amores de cabelo cortado perfeitamente, com cheiro de estrago. Ou ache abrigo no abraço de alguém que anda com uma mochila enorme nas costas, com o rosto queimado de sol e os olhos de quem vivem à vida. Esses que viajam para países vizinhos, dormem em albergues, colecionam histórias nas estradas, divertem os outros com suas histórias, voando livres como sabiás.  Esses que eu queria ser, caso um dia tenha coragem. Talvez, só por hoje, eu me jogue não em braços, mas me segure em asas; sobrevoe, pelo menos, até eu aprender a voar, até eu aprender a me adaptar comigo mesma, sem a necessidade de ter alguém segurando minha mão, me ensinando a andar. Têm noites em que eu me sinto uma telespectadora de amores que se encontraram, e protagonista da história de amor mais linda que eu conheço.

Mas hoje, eu gostaria de agradecer por ter sido meu amigo, meu melhor amigo. agradecer por ter ficado do meu lado e por ter feito eu me sentir certa no universo: isso raramente aconteceu depois de você e talvez essa raridade doa mais que a sua ida e talvez seja eu que não deixe ninguém me enxergar tanto assim.
E eu lamento que o tempo não tenha feito a gente desandar. Eu lamento pelas brigas que a gente não teve e pelas raivas que a gente não causou um no outro, o que eu mais queria era tempo para não dar certo com você porque as lembranças perfeitas causam muito mais estragos que as ruins que eu nunca tive. Te ver apenas como uma pessoa incrível me fez questionar sua existência. E eu sempre te quis real e não incrível. Porque não tem como superar alguém incrível, não tem. e ninguém merece viver com a dúvida da comparação e eu não mereço perecer na incerteza de estar, lá no fundo, comparando qualquer pessoa com você. 

Continua...

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