Quando o assunto acabou pensei que era hora de ir embora, deixar pra lá. Quando o dia chegou quis ser daquelas pessoas que protagonizam o seu primeiro pensamento ao acordar. Mas quando acordei pela manhã, vi que não tinha como voltar a sermos, o que fomos na noite passada.
No nosso íntimo não negamos. Embora na luz do dia sejamos tão experientes em fugir um do outro. E não tem trilha sonora, filme ou livro que distraia. E não tem amigos que acreditem. E não tem "nós" que não se forme. Quando tudo escurece, é quando a gente se confessa e ninguém nunca precisou falar.
Percebi que você também conta os dias, que lembra dos momentos, das falas da sua ex namorada... Que vai guardando consigo recordações mesmo que não admita nem para você. Se enche de pessoas vazias pra se sentir menos incompleto. Quem sou eu para te julgar? Percebi que estamos montando um livro bonito, um álbum de fotografias com sorrisos escondidos e olhares confidentes. Coisas que o mundo quase não nos deixa expressar. No turbilhão que é se apegar, você me abraça sem falar, me beija quase sem querer, me pede pra ficar, e eu sempre escorrego pela suas mãos como peixe.
Você é a crônica de uma noite bonita que não escrevi porque estávamos ocupados vivendo outros amores. É a solução que eu adio por não saber sentir amor. É o tal cobertor para o inverno que me esquenta demais. Então, se é assim, por que nós somos tão... assim? Se tudo é assim, o que mais nos falta ser? Estamos aí, à deriva do futuro palpável. Somos acidente de carro sem airbag: sabemos o impacto, somos a colisão de duas aeronave no espaço. Mas hoje só hoje vou deixar os amores de lado para falar de você.
E eu sei que a noite Não nos reserva nada, além do barulho do vento transitando de janela em janela, mas só por agora... você quer passar o dia aqui? Amanhã eu mudo o roteiro.