Aos poucos a tristeza que decaía quando em um fim de noite qualquer eu me pegava vasculhando suas redes sociais perdeu o sentido. O problema é que quando você foi embora, você começou a estar presente demais. Demais. Eu mal consigo me lembrar como era a vida antes de você, mas estou reaprendendo. Você me enfraquece quando está por perto, e eu não posso deixar. Você me concedeu a proeza de odiar quem não me dá esse amor perfeito que eu espero, e tirou a graça dos meus olhos e direcionou só para o seu cabelo quase tão escuro quanto os seus olhos. E olha, Eu não quero mais.
Eu amava você pela maneira como você levava á sério meus dramas familiares.
Eu amava você pela forma como você me segurou nos ombros naquele show do Armandinho.
Eu amava quando você dizia que adorava minha cara emburrada.
Eu amava como você andava com sua mão nas minhas costas.
Eu amava quando você dizia que éramos parceiros no crime.
Eu amava as pintinhas alinhadas na sua nuca.
Eu deixei de te amar quando percebi que você era viciado na idéia de ter alguém.
Eu deixei de te amar porque eu sou viciada em fantasiar amor demais.
Eu deixei de te amar, quando vi que você tinha uma nova companhia pra acadêmia.
Eu deixei de te amar quando você deixou de reparar meu corte de cabelo novo e se preocupar com as mentiras dos jornais.
Eu deixei de te amar naquela quarta-feira chuvosa que eu passava o dia esperando um sinal de fumaça seu, e o que eu recebia era uma pilha de nada.
Eu deixei de te amar quando seu perfume ficou enjoativo.
Você me disse que eu amava quem eu queria que você fosse e não você.
Eu amei até morrer a imagem fantasiosa de um personagem que eu inventei? Ou eu simplesmente atribuí a você qualidade que você não tem?
Eu perguntei de você pra sua mãe. Eu percebi que eu não tenho que ficar provando pra Deus e o mundo que eu não me importo, que a vida seguiu, porquê a real é que tá tudo uma merda. Se vamos continuar sendo inimigos, ou desconhecidos, saiba que eu vou ser aquela que vai invadir o seu casamento, só pra você me notar. Eu deveria ter saudade de você o tempo todo mas eu não tenho, eu tenho um ódio tão proeminente que me faz querer chorar. Eu deveria fazer terapia. Eu deveria entrar pro clube do livro. Eu deveria estar me preocupando com meu futuro ao invés de querer saber se você ficou com ela naquele primeiro mês que terminamos, você ficou? Não me conta.
Naquele domingo, no aniversário da sua mãe, eu não esperava um convite da sua avó, e ela não esperava que eu aceitasse, e nem eu, muito menos te encontrar com ela. Foi como se não existisse um lugar confortável pra eu ficar, e eu reconheci aquela dor quando te vi do outro lado. Você estava apaixonado por ela. Era a cara que você fazia pra mim quando nos conhecemos. A cara de doente em estágio terminal. Estava chovendo e você se surpreendeu quando percebeu que eu estava feliz, aos olhos de quem visse. Sentei em uma mesa com o seu primo e a namorada dele, e inexplicavelmente não senti ciúmes com ela do outro lado.
Todo o sentimento que eu poderia sentir que sempre era tão maior do que eu poderia colocar em palavras, eu não senti, que era raiva, indiferença, saudade, medo e o pior dele o amor.
Seu cheiro de desodorante caro ainda incomoda minha paz de espírito e invade a minha sala de estar. Eu pensei em sorri pra você do outro lado da mesa. Mas não sinto mais amor. Você causa em mim o que um conhecido distante me causaria, se se sentasse numa mesa ao lado da minha. "Um conhecido". Você foi a pessoa que mais amei na vida e agora me causa a surpresa, de uma presença desimportante.
O amor não vive na ausência, na saudade, na imaginação, na paranóia, no não saber, no silêncio, nas fotos, nas músicas, na lacuna não preenchida.
Certa vez você me sugeriu para vivermos a vida. E disse que estava na hora de eu ir embora. Eu gritei "Você tem razão" da janela, você não ouviu porque estava livre.
Fico pensando se te amei ou tive uma compulsão desenfreada por você, assim como eu tinha compulsão por sapatos. Se você não era uma promoção imperdível de um sapato caro, e eu me rendi aos seus encantos na vitrine. E eu te enfiei dentro de minha sacola. Mas quando cheguei em casa, não servia no meu pé. Era a hora de comprar outro, mas eu te amei tanto que continuei usando, mesmo causando danos aos meus pés.
Eu não consigo. Eu sempre lembro de você apertando meu pé naquela festa da sua mãe, quando nem nos falávamos mais. Eu adoraria te desenhar enquanto você dorme, pra eu lembrar como você dormia, quando você estiver velho, e o seus olhos não terem mais um efeito emburrecedor.
Eu te odeio e te guardo junto com o meu jardim morto. Fico com raiva porque você também sente saudades mas é a ela que você idealiza o seu casamento. Lembro de quando eu te disse que estava apaixonada. Você ficou nervoso "e disse que depois conversávamos" depois você me liga e me pergunta porquê eu estaria apaixonada e eu enumero mentalmente uma lista extensa de todos os porquês eu não deveria estar, mas aí minha necessidade de estragar os diálogos fofinhos diz: "Ah você tem o cabelo bonitinho".
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