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Carta de Deus

Incontáveis vezes eu desejei ser vizinha alguém com braços suficientemente grandes pra me segurar nos ombros no show do The Maine.
Incontáveis vezes me peguei contando as frustrações que passei, amando gente que não tava nem ai.
Eu pensei que nunca iria amar alguém, e ser recíproco.
Me culpava por ter asco da reciprocidade que envolvia amor romântico.
Mas um dia apareceu ele, bonito, alto, me segurou nos ombros ao som de algum cantor sertanejo.
Disse que me amava, dizia que me amava.
Pela primeira vez meu coração congelado não repeliu a reciprocidade do tamanho do monte Everest.
Mas eu estava errada sobre o amor...
Amor não é quando você é afim de um cara e ele te ama de volta, e vocês dançam na chuva, e depois sobe as letrinhas com o nome do elenco...
A gente pode ser amado pelas formigas que evitamos pisar quando somos crianças e nosso sentimento de empatia é maior que a nossa despreocupação, podemos ser amados pelos cachorros que fazemos carinho ou alimentamos, podemos ser amados, pelo gatinho quando encontrarmos na rua, e damos a ele um lar. Podemos inclusive ser amados, pelos refrões acústicos das músicas que mais gostamos. Minha mãe, que deveria ter os maiores braços do mundo, mas não tinha, disse uma vez que estava tudo bem, quando eu cai e machuquei os joelhos.
Somos amados até por aquela 'amiga' que quando nos ver muda de calçada.
Isso é amor.
Todas as pessoas que me amam: elas amam a minha mudança. amam a parte de mim que não se esconde no banheiro pra chorar, amam a garota que faz todo mundo rir com os versos desafinados na social no fim de semana, que não escreve essas besteiras, que se importa com os problemas psicológicos deles, que sempre tem algo a dizer, mas nunca sabe o que está falando, que não tem medo dos garotos e finge que superou o ex só porque transou com um cara em um momento de fraqueza, que não lembra mais quem eram seus inimigos no ano passado, ou foi pra cama com algumas pessoas que gostaria que nunca tivessem existido. Eles amam a parcela de mim que ama a mãe o tempo inteiro, não só nos momentos em que é conveniente, eles amam a parte de mim que não reclama da carência,  amam alguém que não se ressentia toda vez que era a última a ser escolhida no futebol, mas ganhou visibilidade quando virou artilheira no time. E por mais amigos que eu tenha, por mais que as pessoas que mais se importam comigo estejam a apenas passos de distância de mim, eu não me sinto suficientemente protegida. Embora pareça forte aos olhos de quem ver. Eu gostaria de não escrever pra mim as coisas que eu deveria falar pra um psiquiatra que, provavelmente, me entupiria de remédios por dizer que eu sofro de alguma doença psicológica, demais pra minha idade. Eu simplesmente não me importo mais, porque amo a parcela de mim que não costumo ser.
Amo o jeito como eu faço piada de tudo que está ao meu redor, e de como finjo tão bem até pra mim mesma, amo o fato de me reconhecer em bandas que ninguém conhece, amo quando consigo ser cruel e ter uma legião de fãs frustrados por causa disso. Gosto quando esnobo o amor dos outros porque vejo a felicidade alheia como num daqueles espelhos de circo: completamente distorcida e engraçada.
(é engraçado como falo dos espelhos dos circos, já que sou completamente coulrofóbica) Eu que tive um amor, mas hoje sei que definitivamente não se cruzaram na maternidade, nos percebemos e nos reconhecemos em meio à 7 bilhões de pessoas no mundo. É super divertido como eu não tenho ninguém pra ligar no fim do dia e acho um porre quando me ligam e me chamam pra sair.
Enfim. Estou alheia a todo mundo quase sempre. Não me aborrece na maior parte do tempo porque está sempre tudo bem. Está sempre tudo ok comigo, eu tenho internet rápida, tenho livros legais, tenho um filósofo pessimista preferido pra idolatrar, uma coleção infinita de Cd's que nem ouço, um autor bêbado na estante que me faz ter inveja por não conseguir fazer com um papel em branco o que ele conseguia fazer com o próprio coração (salve, buk), está tudo bem comigo.
Mas vai ficar melhor quando eu encontrar alguém com braços grandes o suficiente que me diga o que eu mais quero ouvir na minha vida:
Querida, você já cresceu. Emagreceu, ficou mais bonita, realmente, mesmo que não se sinta assim, quebrou a cara, fez novas amizades, quebrou a cara novamente, fez novas amizades novamente. e, adivinha? Elas também vão te decepcionar, mas elas te amam. Elas amam a parte de você que você quer que elas vejam, então não se preocupe. quando você se sentir triste, pergunte à essas pessoas qual a sua melhor face. Ou então, faça uma piada. Tudo se resolve com uma boa e ácida piada. Sim, você cresceu, não tem mais que lidar com o bullying daquele garoto que a vida inteira foi afim de você, não é mais certo que você construa uma linda e fantástica família feliz, porque nem você sabe o que é isso. Não é mais certo que você vá se casar, porque ninguém é obrigado a lidar com você o resto da vida, e você sabe que não aguentaria um divórcio sem se tornar uma alcoólica perdida em vegas. Você se cansaria dele no dia seguinte, não se cansaria? Você é realmente uma boa pessoa, mas isso não importa pra ninguém além dos mendigos que você fez questão de pagar o café da manhã, queria se sentar com eles, mas não queria amarrotar o seu vestido. Até porque você sempre foi um pouco fútil. A inveja e o desprezo que você sente de todo mundo que consegue ser mais interessante e simpático que você não é uma coisa muito agradável de ver daqui, partindo do ponto de vista da sua consciência. Seu bonito e selvagem cabelo loiro irá cair algum dia e você parecerá menos interessante do que já é, mas está tudo bem. No futuro, a internet será ainda mais rápida. Eu sei o quanto você gosta de ficar em casa, e eu sei o quanto te incomoda ver que as pessoas que te fizeram mal, estão feliz. É injusto, eu sei, mas é errado desejar o mal a elas, o inferno te aguarda. Tem aquela pessoa que você ama mais do que a sua própria família, e sabe que isso é um erro, porque você é egoísta e nunca consegue aprender com os próprios erros, mas está tudo bem. Eu sei que que você culpa a mim, pelas coisas que dão errado na sua vida, mas na maioria das vezes estou jogando xadrez com São Pedro. Também sei que você ainda tem esperança de encontrar o seu gato Fred por aí, sei o quanto você chora pors ele, não é mais fácil aceitar que nem ele te aguentou? Sei o quanto te incomoda que os seus amigos não te chamem pro rolê, talvez eles estejam cansados da suas desculpas para não ir. Não pense que é por maldade sua, mas eu sei que você cresceu ouvindo o que você tinha que ser, como um CD arranhado. E quase se transformou na advogada com a carreira promissora que os seus pais, queriam. Seus pais não mudaram o disco porque você não mudou e isso te assusta, se você não se rebelasse quase se transformaria em uma advogada, militante, feminista, e Palmeirense. Desculpa, se não te contei que o amor não era aquilo que você imaginou que fosse, quando você conheceu o... Eu sei que você não queria denonstrar fraqueza e disse aos quatro cantos do mundo, que relacionamentos são assim mesmo. Você vai sentir falta daquelas fotos que você rasgou no vão das coisas que ele disse, e você sabe que seus relacionamentos daqui pra frente serão sempre superficiais, porquê você ainda acha que ele é o amor, e que o amor aparece uma vez na vida só. Eu até tentaria te convencer do contrário, mas sua teimosia te tornou surda. Não acredite tanto no que o seu coração te diz, ele é ingênuo mas você não. É impossível ser feliz sozinha, mas você não precisa de um cara que te acompanhe no cinema, e te deixe em casa, e te acorde com uma mensagem de bom dia. Ser feliz não é sinônimo de relacionamento sério, aprenda.

Beijos, Deus. 💋

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