Esse texto é sobre o Parker

Ontem sem querer abri sua conta no LikedIn, e então depois apareceu que você tinha aberto meu perfil também, a verdade é que eu estava te stalkeando, então fiz o que as pessoas entedadas fazem normalmente procuram as outras no google. Como vão as coisas por aí? Espero que bem. Você é um cara legal, e eu sempre torço para que você esteja bem onde quer que esteja. Ontem senti a sua falta, ai que está, falta não sei do que, acho que estou passando por uma espécie de metamorfose emocional expelindo tudo o que me fez mal, e acentuando o que me fez bem. Não tenho um motivo nenhum para escrever pra você, e acho que nem deveria estar escrevendo. Nossa última conversa foi meio estranha você só abriu a porta e foi embora. O lado bom é que isso é um e-mail que ainda não sei se você vai ler, mas eu queria te dizer como eu te acho lindo. É uma forma bem superficial de se encantar por alguém, e que a forma como você rir é linda, a forma como você visita hospitais de pessoas com cancer é lindo.Exceto que as vezes você parte o cabelo no meio, e isso é um pouco brega. Escrevo porque sei que você não me odeia, mas só lamento pela indiferença que se alastrou entre nós, escrevo, então e apenas, como uma forma de deixar registrada a minha afeição e o carinho que eu nunca deixei morrer, mesmo quando voce bateu a porta, e faz pirraça, e não faz nada do que eu quero. Eu gosto de tudo em você, do seu nome estranho à seu signo que é o paraiso astral do meu. Quando eu iria imaginar que aquele “cara do cursinho” seria alguém tão especial na minha vida? Aquele dia em que você me emprestou o seu guarda-chuva, e me acolheu, de relance não pude ver nada além de uma pessoa normal, com um riso sem graça, com nada a acrescentar, e você viu uma garota estrambelhada, com o riso escandaloso que faz piada de si mesma, e qque chora assistindo comédias romanticas. Eu admito que eu não sairia com você, em outra circunstancia. 

Quem diria que aquele rapaz engraçado, com o sorriso timido, com um charme arrogante e meio desastrado, ia aos poucos me ganhar. A verdade é que você me surpreendeu e e me ensinou muitas coisas, Se eu soubesse, que você tomaria conta dos meus dias, eu não teria invadido o seu guarda-chuva naquele dia pra não estragar o meu penteado, e minha vida seria bem mais fácil. Talvez não seria vida sem você nela.

Lembra? Enquanto a gente praticava aquele jogo de desinteresses, e fingia que não estavamos afim um do outro, e perguntavamos um sobre o outro pra mesma pessoa? Lembra quando eu disse pra ela que eu estava deixando a cidade, e você pediu pra ela me convidar pra festa de aniversario da sua prima. Você, daquele seu jeito, me catou do chão, cuidou de mim, e fez com que eu fosse embora querendo permanecer, me engaiolou de porta aberta, e eu me prendi porque eu quis. Mesmo quando eu estava recuperada e sadia, e com saudade de ser livre, não tive vontade de ir embora, e quis te contar, que eu gostava de você, e que quando eu fingia que não, eu estava sim. Por isso eu me fazia tanto de louca. Fingia que não gostava de você, mas eu sabia que estava apaixonada antes mesmo de você me beijar, de maneira tão fofa e sutil naquela despedida. Eu queria ser o exemplo de garota que você teria em mente ao dizer que todas as mulheres são doidas. Pelo menos assim, quando eu resolvia voltar, você ainda não havia me esquecido.

Não digo que não fiquei mexida contigo, não vou dizer que depois daquela noite não pensei em ti. Mesmo que eu tivesse saindo com outro cara, pensei sim, mas eu decidi que só estava vulnerável e curiosa, em relação a um americano. Porém, a semana foi passando e aquele timbre de voz não saía do meu ouvido, eu fiquei dias sem lavar a minha jaqueta só porque ela tinha o seu cheiro, e me fazia lembrar, aquele olhar ingênuo  ficava embaçando minha visão, aquelas conversas ficavam se desenrolando na minha cabeça. Mas esqueci, sei lá, a distância e o monte de coisas que eu tinha para estudar me fizeram esquecer.

Daí, a segunda vez em que a gent saiu, eu estava acabada, triste, desiludida, enjoada, sem fé nas pessoas, sem lugar. Eu nunca achei que o Brasil fosse o meu lugar. Entrei naquele lugar outra vez. Minha amiga tinha me dito que você estava de volta à nossa classe, só por curiosidade, certa de que iria comprovar a minha tese e que eu não iria ficar fraca das pernas depois de te ver após quase um ano. Você estava lá, atrapalhado co suas coisas, e atrapalhando meu plano de seguir. O pouco que falou comigo, as brincadeiras bobas, o calor do corpo o mais próximo que eu deixava chegar perto, já me aqueceu naquela noite de inverno desgraçadamente fria. Naquele momento não entendi como pude te deixar de lado, como eu pude ter te esquecido. Tudo voltou. Mesmo estressada, triste e infeliz pude sorrir. E isso despertou dentro de mim, como um alarme dizendo que eu precisava te ver todos os dias. Naquela noite, quando retornei pra casa e agarrei meu travesseiro, senti saudades. Foi estranho.

Eu dizia pra todas minhas amigas que nunca significou nada, como a boa babaca brasileira que eu sou, mas naquele dia que você me cuidou quando eu estava bebada, eu sabia que você era especial, dessas que não se acha à toa por aí. Ai eu me lembro daquele dia, que você tentou novamente me beijar, aí eu recuei, mesmo louca de vontade, mas é que eu achava que seria mais vantagem uma amizade verdadeira, já que eu tinha namorado. 

Soube que você deixou a Florida e foi pra Massachusets, Sei lá, na época eu vivia arrumando essas estratégias para mudar pra lá e te ver de novo, para eu me tornar Au Pair e ficar perto de você. Antes de viajar, eu quis te encontrar, mas como sempre você foi arisco, e acabamos não nos falando direito. Sei lá o que eu queria. Provavelmente acabaríamos fazendo coisas proibidas outra vez. Talvez eu quisesse sugerir a você que me encontrasse aqui, e diria que, ah eu te amei. Mas conheço meus bloqueios emocionais, acho que só diria tchau mesmo.

Hoje posso dizer que tomamos a decisão certa, quer dizer, você tomou. Você sabe das coisas. Eu sou a garota imprudente que ve um precipicio e pular, e você não me deixou pular. Eu ainda sinto sua falta, e me arrependo de não ter dito que eu era louca por você. Mas você parou de fazer tanta falta. Estou vendo as coisas de um modo diferente, por outro ângulo, ainda quero ir pra Boston ha ha… mas não pra ficar perto de você. Você me encantou com o seu jeito rude e torto e reticente de dizer não. Aprendi que eu posso viajar pra onde eu quiser, desistir da faculdade e se jogar. Talvez a gente se esbarre por ai. E talvez eu diga como eu odiaria o seu cabelo em qualquer outra pessoa, mas emm você tudo combina.

Eu preciso de um tempo longe. Eu estouexausta de todo mundo falando mal de mim pelas costas, especulando minha vida amorosa, soprando por aí que eu não passava de uma putinha, só por que uma vez fiquei com aquele cara. Gente hipócrita. Até parece que fui a primeira mulher daquela cidade a dar pra ele. Pelo menos fiz o que eu fiz porque estava afim, embora essa justificativa nem vale como justificativa, tenha sido apenas meu álibi para não sentir culpa haha. E eu não sinto mesmo. 
É isso, então. Acabei dizendo esse monte de coisas quando só queria mesmo dizer que gosto de ti, honestamente. Eu sempre gostei, Não sei se como amigo ou algo mais, mas definitivamente pelo tipo de gente que você é, o ser humano maravilhoso, que só faz bem as pessoas. Rezo para que você tenha sorte aí com sua graduação, que você encontre alguém legal como você, que vai te fazer feliz e mostrar que o amor verdadeiro existe sim, coisa que obviamente sou incapaz de fazer. (mentira, eu rezo pra que a gente se esbarre, e se pegue no banheiro do aeroporto e você descobre que também era apaixonado por mim o ano inteiro, aí eu largo minhas coisas e a gente vira hipsters em Coachella)Bem, no próximo ano talvez a gente não se veja muito, pois é difícil não notar que seguimos caminhos diferentes. (Mas, juro, você vai junto comigo no meu peito. Passe o tempo que for, nada vai apagar a lembrança daquele olhar.)