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O homem mais lindo que eu conheci

toda vez que eu termino um relacionamento, eu lembro que uma vez eu conheci o homem mais lindo do mundo. Foi no baile de formatura do final do terceiro ano no ensino médio, meu par tinha ido embora cedo, eu estava emburrada e sentada no meio fio comtemplando a existência esperando minha amiga ficar com um cara, e começou a chuviscar, e ele murmurou baixinho sobre a chuva desfazer os meus cachos, que eu passei duas horas  fazendo. Toda festa de fim de ano tem aquele seu ex do ensino fundamental, aquele cara que você era afim mas que ficou feio, aquela menina que você nunca conversou mas tem antipatia mesmo assim, pode reparar que também tem aquele cara muito gato que nunca falou com você, porquê você é a esquisita de óculos e aparelho. Ele era o cara mais gato e tava no time de lacrosse, e ele veio falar comigo “vai molhar o cabelo loirinha”. Ah, é só água. Se tratava do rapaz mais gato da escola na época. Quem poderia ser mais bonito do que ele? David Beckham? James Rodriguez? Justin Timberlake? Não. Basta vê-lo em glee, pois ele era a cópia exata do Cory. Não gosto de homem que tem o rostinho bonito, e sente a obrigação de ser tão desinteligente como uma porta, embora eu seja libriana e superficialidade seja meu nome do meio. Ele tinha uma coisa, não sei explicar, acho que era a forma que imitava alguém quando ninguém estava olhando. Ou como ele arqueava a sobrancelha quando queria ser fofo. Nosso gosto musical era o mesmo, a gente cantarolava Red Hot Chili Peppers, e eu apresentei pra ele Yellowcard e Dashboard Confessional, e dois meses depois ele estava me dedicando Stole. Lembro que no mesmo dia em que nos conhecemos trocamos uns beijos, msn, orkut e confissões e eu lembro que, apesar de estar com muito sono e cansaço e meu cabelo estivesse grudando na pele e eu estivesse desesperançada com a vida, e eu não esperava que ele fosse um ser humano tão bom. Eu já tinha visto alguém assim uma vez, na TV. Os olhos dele se pareciam muito com um abismo, o abismo olha pra você, e tudo o que você quer, é se jogar. Como sempre eu pulei, sem nem olhar se ele era denso demais ou raso ao ponto de me causa traumatismo craniano. Ele escreveu nossos nomes em uma árvore uma vez, com certeza isso foi o mais próximo que eu cheguei de amor. O amor só existe pra quem quer vê-lo, eu mergulhei tão fundo que nunca mais aceitei ser degustada pelas beiradas; nosso amor foi tão intenso, que tudo o que veio depois me parecia morno demais. Eu até conheci outros amores depois dele, ou melhor, amores eternos de uma semana: eu só fiz usá-los para me sentir menos vazia na vida, ou pra sentir que havia vida depois dele. Se eles me usaram por causa do meu buraco entre as pernas, eu os usei por causa do meu buraco no meio do peito. Quem é mais esperto? Não sei. Soube que ele seguiu em frente, mas eu ainda guardo um anél de plático que ele me deu quando eu tinha 18 anos, e ele prometeu que aos 25 me daria um de diamante. Conheci um outro quase amor depois dele, durou dois meses. Durante esses 2 anos e uns quebrados de separação ainda tenho uma vontade boba de mandar um áudio no whats arrotando o nome dele. E de rir porque armei toda essa palhaçada de ser só e tatuar  Freedom no meu ombro direito, apenas para, dormir até meio-dia sem vergonha de ser inútil ou mesmo um pouco triste. E vou ficar um pouco feliz porque descobri que ele vai casar com outra, e o anel de diamantes vou esperar pra quando eu fazer 25 anos na próxima vida. E vou ficar lá no cantinho da igreja, e vou rir com tudo o que aconteceu, e pensar que tudo tem o lado bom  eu vou finalmente ter vontade de parar de pensar nele todos os dias. O único que até hoje preencheu alguma coisa. Eu sei porque ele foi embora, porque a gente estava sim se amando, mas alguém tinha que desistir e alguém tinha que se foder. Justo ele que eu escolhi pra fugir comigo da normalidade do mundo. Porque ele me emprestava a mão dormindo e me abraçava nas noites que eu me sentia perdida, e ele dizia achar brega as cartinhas que eu mandava, mas ele guardava dentro da carteira, e também me escrevia textos fofos, com sua cursiva ruim, com coisas que ele jamais me disse mas eu sabia. E ainda se perguntava o tempo todo se eu percebia como era legal a gente, como era bonito. E então, só pra enfeitar a merda que deu errado, porque se não desse errado pra caralho não seria eu, ele se bandeou pro lado dos que se foram. Um dia a avó dele me convidou pro aniversário dela, quase 11 mêses depois que ele se integrou na marinha. E eu me senti idiota e louca por aceitar o convite e ir, como aqueles bêbados que invadem uma festa chique, e as pessoas ficam se perguntando como ele foi parar ali. E ai ele apareceu com uma nova namorada, isso foi muito cruel ainda que seja tão normal as pessoas amarem o próximo assim como Jesus amou. Nosso término não doeu porque ele tava terminando, doeu porque até o dia anterior eu estava tão acostumada a ter ele na minha vida, que eu não sabia como chamar ele pelo nome como dois adultos normais, a gente se falava todos os dias, mas não da mesma forma. A gente não podia ficar juntos, porque ele estava indo embora, e não tinhamos ideia de quando ele voltaria. E ai um dia a gente parou de se procurar. E eu achei que a gente podia ter uma bolha nossa pra sermos loucos, retardados, longe do mundo mais ou menos adulto. E quando eu me dei conta que ele foi embora tudo ficou feio. A vida teve que seguir, e eu quis me prender ao passado. Porque aquela realidade tava foda. E todo mundo vivendo, rindo, fazendo planos, familia, fazendo suas coisas.E eu rindo, acrescentando mais uma tatuagem, desejando ser uma escritora bebada, fumante em NY, chorando silenciosamente um choro abafado, dolorido, retraído, medicado, anestesiado, domesticado: Me perguntando o que houve com o amor. De que ele morreu? Por que eu sigo fazendo de conta que é isso. Naquela noite na festa de formatura, quando eu cheguei em casa, eu dancei Fearless sozinha no meu quarto. Dois anos depois sentei no cantinho da cama e li um texto que ele decorou pra impressionar minha mãe. Porque quando ele ficou nervoso porque queria dizer pra ela que me amava, mas ele nunca tinha me dito. A gente só percebe que é amor, quando já deixou de ser. Esses dias Stalkeei ele no insta, e no comentário da foto, ele disse que amava ela. E tudo o que eu consegui reproduzir era a gente almoçando e falando sobre o tempo e as pessoas escrotas e como éramos fãs do Bolsonaro. Que droga isso tudo, que droga esse amor, que droga eu, que droga todos os casais que riem e combinam política, fazem suas coisas e almoçam e falam que se amam. Sobrevivi pra nunca saber se ele ainda lembra de mim, pra nunca responder quando me perguntarem: E ele? pra nunca entender o que houve com a gente. Pro nosso final feliz ser ele lendo o texto mais lindo que eu já escrevi, enquanto ele planeja sair da casa dos pais, e alugar um AP mais ou menos, e morar com a namorada. O mais estranho de tudo é que depois de tantas pessoas que vieram depois dele, eu ainda sinto tantas milhares de coisas lindas, relacionada a ele. Lametando nosso fim de amor, e lembrando da gente dormindo e ele fazendo a piada dos homens que eu achava gato. Eu sinto saudades, mas não todos os dias;  Eu prefiro ser quem sente saudade em silêncio, quem espera na porta do seu Ap pra entender que se ele descer, não será por mim. Eu prefiro ser quem o espera na outra linha pra entender que se ele ligar pra mim, seria engano. Eu prefiro ser a louca que imita a sua nova namorada, mas que morre de inveja dela por ser tão sortuda. A trouxa que pergunta de você pra sua mãe mesmo sabendo que ela vai te contar. Do que ser quem beija um cara na sua frente pra fingir que superou, que posta snaps na balada pra fingir que a vida tá muito melhor sem você. Do que fingir que não sente ou não se importa ou não se incomoda de ser esquecido. Porque eu sou quente, trouxa mesmo é quem acha que ser frio é ser demais, que indiferença é sinônimo de virtude, porque gente fria pra mim é gente morta.

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