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Parker

Eu lembro que uma vez você me disse que sua maior mágoa, era eu nunca ter escrito um texto sobre você. Nem que fosse te xingando, te zuando. Qualquer coisa. 
Você sempre foi o único homem que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma mensagem bonitinha de aniversário. Eu lembro que antes de eu ir pra California, você dizia que eu era a Summer e você o Seth, dizia que eu não seria a Marissa, porque ela morre no final.
Você sempre foi o meu melhor amigo que entendeu essa minha vontade de fugir pelo mundo, mesmo que eu sofresse de saudade do meu namorado. E o único que sempre entendeu também, o meu espaço. O único que ficou, quando todos me deixaram. Eu lembro que você me disse, que quando eu morasse na California, você se mudaria pra casa ao lado, e nunca mais sofreríamos com a distância. Outro dia eu encontrei um texto antigo, e lá estava escrito “hoje eu larguei meu namorado e dancei com ele. Ele, no caso, é você. Dei risada e lembrei que em todos esses anos, mesmo eu nunca tendo escrito nenhum texto para você, eu por diversas vezes larguei vários namorados meus, sentados, e dancei com você. Porque você é meu melhor companheiro de dança, mesmo sendo tímido e desajeitado. 
Depois encontrei uma foto em que você está com um daqueles óculos escuros espelhados meio Nigga. E eu de cabelo colorido. E nessa época você dizia ser apaixonado pela minha melhor amiga, e eu tinha ciúmes. Mas eu gostava de você porque você é engraçado, e eu achava isso super sexy. Tenho uma foto nossa dançado na Times Square, E eu me achei ridícula na foto mas senti uma coisa linda por dentro do peito. 
Todo mundo na minha casa, perguntava se você era o meu namorado, eu lembro na sua festa na fraternidade e você me levou, e disse pros seus amigos que você era o meu namorado pra eles não flertarem comigo, aí você ficou meio bêbado e me beijou, depois fingiu que ia desmaiar. Foi ridículo. Mas foi menos ridículo do que aquela vez, ainda na faculdade, que eu invadi seu carro e te agarrei a força, pra você não ficar com a "Jenny besouro", esse apelido eu coloquei, porque não gostava do óculos dela. Você ficou tão bravo, e ficou dois meses sem falar comigo. Depois apareceu lá na minha porta, molhado pela chuva dizendo que tinha saudades. Eu não sei porque exatamente eu nunca te escrevi, no meu aniversário do ano passado, quando fugimos pra Tucson e passamos a noite na carroceria do seu carro, vendo os vagalumes, e contando piadas. Ou mesmo quando, já de saco cheio de eu te ligar pra falar dos garotos que eu namorava, você me mandava cartões postais, de todos os lugares que você ia, e eu não podia ir. Também não sei porque eu nunca escrevi um texto quando você apareceu naquela festa de haloween, me viu dançando sozinha, e me disse a frase mais linda que eu já ouvi na minha vida “eu sei que você não gosta de mim, mas deixa eu te olhar mesmo assim”. 
Talvez eu devesse ter escrito um texto para você, quando eu te pedi a única coisa que não se pede a alguém que ama a gente “me faz companhia enquanto meu namorado está viajando?”. E você fez. Você era o único que estava lá, quando ninguém mais estava. 
Depois você começou a namorar uma menina da Australia e me deixou, e também deixou de gostar de mim. E eu podia ter escrito um texto para você. Claro que eu senti ciúmes e senti uma falta absurda de você, e eu chorava todos os dias, porque a gente parou de se falar, e até hoje eu conto pra todo mundo que você Parker Ryan, é o meu melhor amigo. Mas ainda assim, eu deixei passar em branco. Nenhuma linha sequer sobre isso. 
Depois eu também podia ter escrito sobre aquele dia que brigamos, pela primeira vez, porque você estava voltando pra austrália. Então eu fiquei umas semanas na casa do seu pai em Miami, e conheci sua mãe, e ela dizia que gostava mais de mim, porque sou engraçada. E fiquei feliz. Pode me xingar quanto você quiser desde que isso signifique que você ainda gosta um pouquinho de mim. 
Minhas piadas, meu jeito de falar, até meu jeito de dançar ou de andar. Tudo é você. Minha personalidade é você. Quando eu berro Hot Chelle Rae, no carro ou quando eu faço uma amiga feliz com alguma piada. Tudo é você. Eu te amei mais do que qualquer homem que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo, mesmo eu nunca tendo demonstrado isso. E, ainda assim, nunca, nunquinha, eu escrevi sequer uma palavra sobre você. 
Até hoje. Até essa manhã. Em que você, pela primeira vez, foi embora sem sentir nenhuma pena nisso. Foi a primeira vez, em todos esse anos, que você simplesmente foi embora. Como se eu fosse só mais uma coisa da sua vida cheia de coisas que não são ela. E que você usa para não sentir dor ou saudade. Foi a primeira vez que você deixou eu te olhar, mesmo você não gostando de mim. 
E foi por isso, porque você deixou de ser o menino que me amava e passou a ser só mais um que me usa, que você, assim como todos os outros, mereceu um texto meu.

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