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28/09/2019

Hoje seria um dia que você me ligaria, e marcaríamos de jantar, você me levaria pra conhecer o estádio do Chelsea, e nós riríamos de algum filme antigo dos anos 90. Hoje seria um dia que você se atrasaria para chegar em casa, porque esqueceu de trazer as flores, mas apareceria molhado na porta, e diria o quanto eu sou importante pra você. Hoje seria um dia em que eu ficaria brava porque você esqueceu do cartão, mas no fim você me faria rir, e eu esqueceria, hoje seria um dia que você deixaria os seus compromissos pra passar o dia comigo, mas hoje não houve ligações, nem jantares de última hora, e nem flores na minha porta, hoje foi um dia sem cartões, e sem compromissos cancelados.

Eu te traí

Eu te traí da forma mais bela possível, seu idiota. Fiz com outro tudo aquilo que você não fez comigo. E sim, eu jogo toda a culpa em você, sem medo de estar cometendo qualquer tipo de injustiça. Você foi o primeiro motivo pelo qual corrompi tudo aquilo que eu achava tão certo. E você pensa que foi por sexo? por tesão? por variedade? Aí que você se engana, seu imbecil! Foi por vingança. Por todas as vezes que fiz planos para o futuro sozinha. Pela páscoa que você decidiu passar sem mim, enquanto eu ficava em casa chorando, me sentindo rejeitada. Por aquela vez que você levou outra pessoa pra balada e voltou às 5am. Por aquela vez você segurou forte no meu braço, e me fez ter medo de você. Por todas as vezes que meu ônibus passou na frente do cinema e vi cartazes de filmes que você jamais me levaria. Pela vez que você me deixou sozinha e preferiu ficar sozinho com os seus amigos. Por quando você me trocou pelo seu maldito computador. Pelas vezes que te liguei chorando e você ignorou. Pelas vezes que você não entendeu meus “break down” de mulher, como chamava. Pela ocasião que você gritou comigo em Paris. Por me fazer acreditar que o problema era eu. Por todas as noites que me faltaram uma mensagem de “dorme bem” no celular. 

Sobre a bagunça que eu me tornei por sua causa

Você já me viu dormir, acordar, tomar banho, gozar e ter medo de palhaço, acho que posso te dizer mais algumas coisas. Até porque não preciso ter medo de afastar o que já está tão longe de mim. 
Eu vou embora porque tenho pavor de você querer que eu vá embora. Eu tenho pavor, da gente ser feliz, e você perceber que não era eu que você queria, tenho pavor de descobrir que a noite não é minha falta que você sente quando a gente tá separado, é das garotas que você fica horas vendo o perfil no Instagram. Tenho pavor de me tornar apenas um bandaid na sua vida. Eu não faço questão que ninguém goste de mim, mas fico completamente louca quando alguém gosta. Porque descubro que cada segundo da minha vida foi pra sentir isso. E o que será dos próximos segundos? Não me tire da minha merda pra depois me lembrar que tudo é uma merda. Não me faz feliz, pra depois me fazer esquecer como eu era feliz sozinha. 
Eu só queria voltar a dançar em público sozinha sem que você me ache infantil e desmiolada. E comer num restaurante barato em Londres e reclamar daqueles metro lotado. 
Eu era feliz. Na verdade eu não era nem um pouco feliz, mas pelo menos eu sabia o motivo pelo qual eu estava na Europa, agora eu não sei mais. 
Tô cansada daquelas ligações superficiais e descartáveis no meio da noite, que me enchem de irresponsabilidade e fé no amor. Depois a despedida doída, no aeroporto, e lágrimas de “até um dia”. Tô cansada de chorar encolhida pra ninguém me ouvir, e me sentir desesperada por estar levando uma vida normal e não ter a opção a qualquer momento para enlouquecer e chutar tudo. 
Com você e todo esse amor, eu consigo apenas me largar pelos cantos assustada, porque eu Sei que do seu lado, não é amor que você vê, só uma menina perdida sem saber o que fazer. Isso é vida? Eu não quero andar duas quadras no sol com você reclamando porque eu sou assim, doida. Eu quero deitar e esperar passar tudo. Eu quero te olhar deitada enquanto seguro um copo com água de coco geladinha. Porque você não sabe, mas tenho corrido maratonas e vencido monstros gigantescos para conseguir sentir tudo isso sem arrancar meu coração fora. E quando você, ao invés de me esperar no pódio de chegada com pomadas e isotônicos, me olha desconfiado ou entediado de tudo, se perguntando porque eu sou assim, eu quase desejo que dessa vez eu morra no meio da corrida. Porque é ridículo achar que você faz tudo valer a pena, mas, no fundo, acabo achando que você faz tudo valer a pena. E eu continuo chorando baixinho, encolhida na cama de um hostel, porque talvez você tenha razão e eu seja, essa garota, de plástico, que você enxerga. 
Eu não faço a menor idéia de como se vive, se cresce, se multiplica. Eu só me como por dentro, me corrôo de ciúmes, fico tentando segurar tudo com medo que eu comece a despedaçar no meio da rua. Eu me maquio pouco, como pouco, transo, digo e amo pelas beiradas. Tudo pra eu me arrepender menos na hora de limpar a sujeira. Tudo pra, arrogantemente, não sentir a vida. Quando tudo o que eu queria era andar pela nossa casa, e reclamar que você esqueceu de alimentar os peixes. E olho pra você, meu amor, como eu amo você, e tenho vontade de arrancar meu coração, e fatiar pra entender o que há de errado comigo, porque eu queria não sentir. E não me pergunte como é que nascem pessoas assim, como eu, que amam com tanta necessidade de machucar. Como é que tem gente, como eu, que acha que sentir amor é uma gripe forte, uma célula mutante, um motivo pra chorar muito. 
Não me pergunte de quem é a culpa e não me pergunte se tenho consciência disso e não me pergunte nada. Eu sei de tudo, eu sei muito de absolutamente tudo. E por isso mesmo é que fico catatônica vendo minha incapacidade de amar ou ter pernas grossas. 
Como é que se vive? Eu queria cutucar as pessoas. E se você não suportar mais? Como é que faz? Como eu faço pra disfarçar a solidão profunda que sinto no meio de reuniões, no meio de papos leves, fins de sexo e começos de relacionamento? Como eu faço pra ficar perfeita o tempo todo ou virar um bicho estranho e não precisar mais de ninguém? Eu jamais serei o que eu quero e jamais serei o que eu sou sem precisar disfarçar que quase sou o que eu quero. E cada hora eu quero uma coisa. E no fundo eu não quero porra nenhuma. Talvez só encher um pouco o saco, provocar, ser expulsa do peito de todo mundo porque não agüento morar nesses lugares obscuros que são os outros e suas más intenções disfarçadas. Tudo é uma jaula, até minha fuga. Principalmente minha fuga. E eu estou cansada demais. É só olhar pra mim. Olheiras, ossos e escárnio. 
Gosto das pessoas fortes e burras. Gosto porque jamais vou odiar o que não amo. Como é bom cagar pro mundo e andar de cu ereto. Basta amar alguma coisa para eu enfiar o rabo entre as pernas. Para eu arquear os ombros pra frente. Porque quero proteger tanto você dentro do meu peito que acabo andando como se eu tivesse grávida na garganta. Cada vez que eu quero falar ou comer ou gritar ou viver. Vem o medo de que você me saia pelos buracos da cara. Medo de vomitar você. 
Como é que se vive? Como é que se ama em meio aos fedores e sujeiras e desistências da sua casa? Como é que se espera alguém voltar do seu mundo particular se eu acabo, por conta de um medo absurdo, indo para o meu para não ter que ver você longe? Esperar o quê? A vida secar tudo, murchar tudo. Não quero viver a porra do momento como dizem. Me sinto o tempo todo uma inocente me debatendo nas paredes de uma piada de mau gosto. Só queria achar a saída e rir por último. Como se eu tivesse tamanho ou força pra peitar assim as coisas como elas são. Ser humano é constatar nosso tamanho ridículo perto das coisas como elas são. Ser humano é a coisa mais linda e sábia a se fazer. Mas ser humano dói em mim de uma maneira tão especial e absurda e assustadora que, em meio a toda essa auto-estima de merda, ganho certa arrogância. Não tenho mais bunda, nem dinheiro, nem peitos, nem sorrisos, nem amigos, nem viagens, nem línguas, nem nada do que os outros..mas tenho meu jeito de bloquear a vida fora e mergulhar aqui nessa coisa horrorosa. Nessa lista VIP da pior festa do ano só tem o meu nome. E lá vou eu voltar pra mim e esperar algum saudosismo escondida atrás da minha porta, com a arma na mão. A porta com todos os trinquinhos. O olho mágico vendo o escuro eterno das pessoas que desistem porque até eu mesma sempre desisto. 

Aos poucos os olhos se preenchem. As pernas engrossam. Minha voz volta a parecer a voz de uma garota que merece ser amada. Compro uma roupa bonita. Mudo de analista. Escolho uma comédia ou uma revista de fofocas. E então estou pronta de novo. Sou uma armadilha pra ratos. Sem queijo. O que me faz pensar que só atraio quem merece.

Carta de: Eu 2018, Para Eu 2019

Que você se torne tão forte e corajosa que ninguém seja capaz de te fazer duvidar de si. Mas, desejo também que ninguém tenha a capacidade de te fazer endurecer ao ponto de se tornar fria e calculista com os corações alheios.
Que as decepções, por maiores que sejam, que as dores, por piores que sejam, só te façam mais humana e não menos humanizada. Eu desejo que você tenha paciência para lidar com o seu crescimento, com o seu caminho e sabedoria pra escolher por onde ir.
Desejo, do fundo do coração, que você não perca, por nada e nem por ninguém essa esperança genuína de que o mundo é um lugar bom, de que as pessoas são boas e de que sentir, por mais que dê medo, é bom também.
E, falando em sentimento, desejo que você não esconda nenhum. Que assuma a tristeza, a dor, a raiva, a felicidade, a empolgação e, depois, deixe ir. Não se apegue a nenhum sentimento, seja ele bom ou ruim. Sinta, vivencie e abra mão. São passageiros, tanto quanto nós.
E eu desejo pessoas boas no seu caminho para que reforcem a visão que você tem sobre esse tipo de gente. Mas, que você também conheça algumas pessoas amargas, não tão boas assim, para que aprenda a lidar com elas, sabendo que nem sempre você pode ajudá-las e para que elas equilibrem seu jeito entregue de ser, para que você aprenda quem merece sua intensidade e quem não merece uma gota do que você transborda.
E eu desejo que você siga sendo luz, mesmo que por vezes, seja só faísca, mas que não se deixe apagar por quem tentar te diminuir, por quem tentar trazer para a superfície os seus defeitos, por quem tentar te fazer menor para caber naquilo que é confortável e conhecido.
Você nasceu para ser grande, para fazer a diferença, para ser do jeito que é. Por isso, repito, que você não tenha medo de ser quem é, que não se acovarde e não pare no meio do caminho na esperança de que, aqueles que ali estão, queiram seguir com você.
Seja suficiente. Saiba que você se basta. Seja humilde. Saiba que os outros são importantes. Seja esperta. Saiba compreender que alguns chegam, outros partem e quem tem que ficar, fica. E eu te desejo o mundo. Um mundo tão lindo quanto o que você vê ao olhar, primeiro, para o coração de cada um.

A minha ansiedade é um inferno particular

Muitas vezes me perco entre as minhas inúmeras ansiedades. Sinto como se elas testassem diariamente a minha capacidade de suportar uma enxurrada de dúvidas e, pior, tivessem o sadismo de resgatar algumas lembranças tristes que ainda me doem. As minhas ansiedades me corroem, me tiram o ar, literalmente, quando não me roubam as esperanças e o sorriso do rosto. São insistentes, conversam comigo em momentos que eu não gostaria de conversar e me deixam com algumas inseguranças que eu gostaria tanto que não me pertencessem mais.Elas são como aquelas amizades que um dia já amamos, já foram eufóricas, felizes e tiveram o seu momento de companheirismo na adolescência, mas, hoje, não fazem mais sentido.
Toda noite, quando o relógio insiste em fazer maratona pelas ruas do meu coração, me questiono por que a minha cabeça não esvazia como o meu coração já cansou de fazer? A ansiedade habita de maneira tão corriqueira dentro de mim, que algumas vezes já me peguei até com medo de ser feliz. Não sei, era como se eu não merecesse tal felicidade. Medo de ser feliz, qual o nome desta doença!? Me parece grave… No medo de errar, eu me apavorava e desistia; no medo de amar, pegava as minhas trouxas e fugia para a minha concha de retalhos emocionais; no medo da insuportável aparição da ansiedade; ficava por horas e horas entre as cobertas e com as luzes apagadas. Feito o melhor brinquedo do parque, a minha cabeça brincava de ser o carrossel que todas as crianças gostariam de brincar; subiam, pulavam, gritavam e batiam insistentemente os pés, enquanto eu girava, girava e girava, em um único movimento circular e repetitivo, sem nem saber o porquê.
Dividir com alguém as angustias das nossas mais íntimas, recorrentes e incoerentes ansiedades, é um sofrimento solitário. Solitário, pois, não converso sobre as minhas ansiedades com quem sinto que não se disporia a me ouvir. E por sentir que poucos conseguiriam dimensionar o meu sofrimento, me fecho em solidão, me permito silenciar a boca, os olhos e o acelerado bater do coração. Fico sozinho, brinco de catastrofizar as minhas próprias vivências e percebo que já estou ficando pós-graduado em antecipar desgraças que provavelmente nunca acontecerão. Fato é que só compreende a profundeza de uma crise de ansiedade quem já sentiu, quem já viveu, quem já criou laços de amizade com as obscenas e solitárias madrugadas, quem já latejou a cabeça em busca de soluções que não existem, e caso existam, só dependem do nosso, nem sempre amigo, tempo.
Abafar os pensamentos é uma constante agonia que carrego comigo desde pequeno. Acenar para a minha autoestima no quesito amar é uma luta diária e que oscila com o meu emocional. Lembrar que as nossas vidas ainda terão muitas boas notícias por vir é uma mensagem que escrevo em um pedacinho de papel e deixo na porta da minha geladeira para ler todos os dias pela manhã. A verdade é que não sou uma pessoa triste, longe disso, mas, às vezes, quando imergido nas profundezas das minhas mais íntimas e confusas ansiedades, infelizmente, me esqueço deste pequeno detalhe.

Dedico este texto a você que também é refém da ansiedade

Oi, tudo bem? Eu só queria te dizer que estamos no mesmo barco. Eu também sei como é sentir o peso das escolhas antes mesmo delas serem feitas. Eu também sei como é passar noites em claro pensando em algo que você só irá fazer daqui duas semanas, dois meses, ou dois anos. Eu também sei como é perder o apetite, a concentração, e até mesmo a cabeça; apenas tentando encontrar soluções para um problema que nem chegou perto de acontecer. O que eu quero que você saiba é que eu entendo o que você sente. E que, juntos, podemos tirar das mãos do futuro todos aqueles sentimentos que nos impedem de chegar onde o presente nos espera.
A ansiedade pode nos afetar de diversas formas, e, por isso, cada pessoa apresenta um ponto fraco diferente. Pode ser que você perca noites de sono pensando naquela apresentação em público na sua faculdade. Pode ser que você não se sinta confortável em fazer novas amizades, ou que você se preocupe em excesso com coisas que nem merecem a sua atenção. Toda pessoa ansiosa trava uma batalha diária com o medo; o medo de não ser boa o suficiente, o medo de se relacionar com pessoas diferentes, o medo de sair da sua zona de conforto.
Justamente por isso, todo refém da ansiedade também é um perfeccionista, pois carrega dentro si a obrigação de não deixar ninguém perceber que alguma coisa passou batido. E esse medo de errar acaba sendo o seu maior freio de mão frente à realidade que o cerca.
Estou escrevendo este texto pois eu ainda sou um deles. Apesar de já conseguir encontrar atalhos que já não me levam em direção a ruas sem saída, eu ainda me perco, às vezes. O que eu quero que você saiba, eu que eu já não me perco mais como antes, pois, hoje, eu sei por qual caminho eu devo seguir. Eu já perdi amores, já perdi dinheiro, já perdi amizades, mas eu nunca perdi a esperança de me encontrar novamente. E é por isso que eu quero que você não desista.
Muitas pessoas não conseguirão enxergar o seu problema. E muitas outras irão te deixar pelo caminho. Você precisa ser forte. Mais forte do que você já vem sendo durante todo esse tempo. Apesar de você ainda não conseguir enxergar muito bem além da curva, eu te garanto que essa caminhada vale a pena. A vista do lado de cá é linda, e libertadora também.
Permita-se chorar em dias nublados, você não precisa ser sol todos os dias. Saiba qual é o tipo de pessoa que merece estar ao seu lado e também que merece ficar para trás. Você não precisa carregar peso desnecessário. Você só precisa aprender a ser suficiente. Você não precisa agradar a ninguém além de si mesmo. Quando o mundo estiver pesado, pare para descansar. Livre-se da obrigação de ser sempre forte. A fraqueza, às vezes, é a fortaleza das pessoas que são mais coração do que razão.
Você pode ser quem quiser, pode chegar onde quiser, e também pode sair dessa, se quiser. Ninguém entende mais de superação do que você, não é mesmo? Lembre-se: estamos juntos.
Em breve nos encontraremos do outro lado da curva. =)
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